A próxima dose
Tudo começa mais ou menos assim:
“Joãozinho” é uma criança criada com amor e muito SIM.
Alimentada com todinho e danoninho, típica da geração fralda descartável.
Cheia de personalidade, temperamento forte, bate o pezinho e faz birra, só gosta de coisas de grife. Quer sempre que seja feita a sua vontade. Já tem bom gosto nesta idade!
Estuda nas melhores escolas, frequenta curso de Inglês, tem aula de natação e informática, faz cursinho de Matemática e Português.
Brinca sempre sozinho para evitar que o coleguinha quebre os seus brinquedinhos de controle remoto, seu passatempo preferido o vídeo game, onde elimina o inimigo .
O tempo não para e “Joãozinho vai crescendo ,vai abandonando a infância, entrando na adolescência, precisa se afirmar, cresce a vontade de descobrir-se logo.
Ninguém mais com ele pode nem na escola, nem em casa. Só lhe resta o psicólogo.
Não conhece limitações, não sabe lidar com frustações, não mede as consequências de suas ações.
De repente se vê envolvido com pessoas “extrovertidas”, “corajosas” e cheias de “estilo” as chamadas “populares”. Surge uma admiração um desejo de entrar para esta tribo é fato, o que aumenta ainda mais seu nível de conflito.
Seus interesses mudaram, seu desempenho nos estudos vai mal, seu relacionamento com a família azedou total.
Fechado no seu fracasso, procura uma saída, um amigo, um cúmplice um confidente, alguém que o faça sentir gente.
Adolescente ,vulnerável e carente. Uma presa fácil para o “amiguinho” traficante.
Neste instante lhe apresenta uma parada sinistra, capaz de o fazer “viajar” para um mundo perfeito e vem a palavra chave: EXPERIMENTA vai!
Há princípio vem a rejeição, mas diante da insistência e dos “benefícios” vem o pensamento: “vale a pena tentar por quê não? E depois se não gostar tô fora”!
Após o experimento, uma única certeza. A de que precisa de outra dose, mais outra dose, mais outra e mais outra... seus probleminhas de adolescente viraram fichinhas, diante da fissura de satisfazer o falso prazer que sente.
Já não existem nada nem ninguém mais interessante.
Mentir, enganar, mendigar, roubar, passam a ser em sua vida os verbos mais conjugados na prática.
E quando um dia, a sua mãe cansada passa lhe cobrar a vivência do verbo estudar, trabalhar, mudar, organizar...
Há neste instante na vida desse ser uma revolta, um incômodo, um desconforto, um desespero e uma certeza a de que precisa se livrar desta voz que lhe desestabiliza, que ameaça tirar a sua “paz” ,então uma decisão é tomada e um crime é planejado.
Um dia, diante de mais uma discursão uma faca é puxada, para de forma estupida calar aquela voz afiada, que chegava a cortar a pouca consciência que restava naquele filho amado.
Já no dia seguinte as manchetes nos jornais e na TV fala do filho que mata a mãe esfaqueada. Mais ele não está preocupado com isso, esse inimigo ele já eliminou. Sua preocupação maior no momento, é de que estará indo preso e o que irá fazer pra conseguir a próxima dose.
A droga é auto prazerosa, é extremamente possessiva e egocêntrica, ela por si só basta , isso está mais que comprovado uma vez que tira o sentido e o prazer de viver dos seus usuários. Ela consegue “substituir” o amor de pai, mãe, de esposo, esposa, filhos, a instabilidade financeira, a vaidade, o bom senso, a responsabilidade, a coragem, o orgulho, o caráter, o medo, o amor próprio, a fé e por fim a esperança, aquela que alimentaria a certeza de que nem tudo tá perdido e seria capaz de reverter o caos que dominou uma vida, quando o NÃO falhou.
Shirley de Jesus Soares
Pais, sejam mais presentes nas vidas de seus filhos e mais atentos ao que acontece com eles